KAKOS DE CANOA QUEBRADA
(a versão de todas as verdades)

Prosseguindo com o tema veiculado no JP nº 10, entrevistamos a seguir o arquiteto e professor Raimundo Carlos Limaverde, docente da Unifor pós-graduado em Turismo e diretor de Meio-Ambiente da Associação de Moradores dos Esteves de Canoa Quebrada. Ele nos conta a origem do símbolo associado à lembrança da praia mais famosa do Ceará.

JP: Porque a Lua-estrela em Canoa?

RCL: Este símbolo admite várias interpretações: para uns, é o casamento da Lua com a Estrela D'Alva, fenômeno que ocorre em outubro com a "aproximação" aparente dos dois astros. A crença indígena classifica essa ocorrência com o nome missaré, que quer dizer "casamento dos céus". Já outros vêem a Lua representando da polaridade feminina, recebendo em si a estrela de cinco pontas, ou de quinta grandeza, que é o Sol, representando o pólo masculino, numa dialética do firmamento, o local onde os deuses se encontram. O arco da Lua também alude a um ventre feminino, que nutre uma Estrela-feto. Essa interpretação liga-se à idéia de procriação, fertilidade e amor. A Estrela é, ainda, a imagem do homem, ou microcosmo, e simboliza também os cinco sentidos.

JP: A Lua-estrela não é um símbolo milenar do povo muçulmano?

RCL: É verdade. Este símbolo chegou a Canoa através de um casal do Oriente Médio que pediu, ao seu Chico Elisiário, artesão de osso de tartaruga, que fizesse para eles um par de anéis. O anel com a Lua-estrela foi logo solicitado por outras pessoas e tornou-se uma espécie de talismã.

JP: Mas como a Lua-estreJa tornou-se o símbolo de Canoa?

RCL: Durante meu tempo como universitário, dediquei-me bastante à comunicação visual. Cheguei até a ganhar alguns concursos, a nível municipal, estadual, nacional e, posteriormente, no exterior. Cito alguns: o cartaz e símbolo do XXII Salão de Abril, o símbolo do movimento de promoção social do Ceará; o símbolo do Nutec (Núcleo de Tecnologia do Ceará): o cartaz e o símbolo do I Encontro Nacional dos Professores do Ensino Superior, e outros mais. Em 1977, ao me formar, senti o desejo de deixar uma marca para o local que me acolheu com tanto carinho. Vi no trabalho do seu Chico Elisiário o potencial que eu procurava. Já naquela temporada, os anéis de Lua-estrela tinham uma produção incessante. Dai esculpi, com a ajuda do Niciano, uma Lua-estrela de dimensões faraônicas, no alto das falésias.

JP: Então foi uma adaptação, e não uma criação?

RCL: É verdade. O mérito reside na visão do que aquele símbolo poderia trazer a todos do lugar, para os que produziam artesanato em labirinto, adornos tipo brincos e braceletes, tatuagens, etc. Logo caberia uma escultura, com um patamar em grandes dimensões, onde o visitante pudesse participar do cenário que tem por fundo a Lua-estrela, tornando-se um elemento vivo e divulgador, dentro do seu próprio cartão-postal.

JP: A escultura original ainda existe?

RCL: Existiu até 1988. Durante dez anos mantive a restauração da escultura original. Os turistas a utilizavam como havíamos previsto, mas também a destruíam, escrevendo nela seus nomes. Como a proposta era a de um trabalho e cultura cumpriu magnificamente, ao longo desses anos, o seu papel.

JP: Para terminar, porque aparecem os nomes "Kako" e "Carla" junto da escultura, nos postais de Canoa?

RCL: Kako foi o carinhoso apelido que eu ganhei dos canoenses e Carla foi para mostrar o meu amor de pai quando ela nasceu em 1982. Foi também para mostrar que a minha verdade queria a mentira daquela que eu pedi em casamento, em Canoa. Mas o destino nos tornou "kakos" do lugar naquela esquina o mundo... 


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